21 de outubro de 2022

by Álvaro Campos – Valor Econômico

Correção de preço abre oportunidade para investir em startups ‘late stage’

A crise das empresas ligadas a tecnologia pode ainda não ter se encerrado de todo, mas, com uma queda de 70% a 90% nos preços das companhias, é possível dizer que boa parte da correção já ficou para trás. O número de aportes na América Latina recua fortemente em 2022. No entanto, após o fim da exuberância vista nos últimos dois anos e a volta da racionalidade nos “valuations”, alguns grandes fundos de venture capital – globais e locais – focados em companhias já no “late stage” (que já têm um modelo comprovado e geram receita de modo recorrente) têm analisado investimentos na região.

Dentro do venture capital, o late stage tem um risco menor do que o “early stage”, de startups que ainda estão muito na fase inicial, sem um modelo testado. O late stage se confunde um pouco com o investimento em “growth” (empresas de alto crescimento) e também fica no meio do caminho entre fundos de venture capital e de private equity (que investem em empresas que se encontram em um estágio maduro de desenvolvimento). Mesmo sendo um pouco menos arriscado, esse segmento tem sofrido uma forte queda este ano. Segundo levantamento da Lavca, associação latino-americana de venture capital, com dados da plataforma Crunchbase, a região teve 12 rodadas de aporte no primeiro semestre em late stage, contra 41 em todo o ano passado. O dado considera rodadas a partir da série C e com valores superiores a US$ 50 milhões. Em early stage, foram 98 transações, contra 196 em 2021.

Ainda assim, à medida que o cenário vai se tornando mais claro, fundos focados no late stage começam a vislumbrar algumas oportunidades. André Maciel e Gregory Reider, que fundaram a Volpe em 2020, apontam que grandes fundos globais que eram atuantes na região até o ano passado se voltaram neste ano para seus mercados principais, e que não há muitos gestores locais para preencher esse vácuo. Em tese, com menos gente pescando, fica mais fácil encontrar bons peixes no lago. Eles dizem que a crise atual em semelhanças com o estouro da bolha “pontocom”, em 2001, em que muitas empresas de tecnologia ficaram pelo caminho, mas as que sobreviveram saíram mais fortes após uma onda de consolidação.

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“Embora ainda estejamos no início de um ciclo descendente e leve tempo para eliminar os excessos criados nos últimos dois anos, esperamos uma recuperação mais rápida do que em 2001, pois o setor de venture capital latino-americano está mais maduro e as economias desenvolvidas estão em melhor forma do que no ciclo passado”, diz Maciel. A Volpe só fez um novo aporte este ano, na Zippi. Está olhando mais profundamente três “cases” e deve concluir um investimento em uma startup mexicana de saúde nos próximos meses.

Maciel explica que, embora nas bolsas a correção nas empresas “tech” tenha sido bastante forte este ano, nos chamados mercados privados esse processo está mais atrasado. Ele diz que muitas empresas listadas que sofreram correções de 70% a 90% são bem administradas, geram receitas significativas. “Com uma queda generalizada, os investidores terão a oportunidade de investir em growth com um desconto. A reprecificação nos mercados privados mal começou. Muitas empresas levantaram muito dinheiro no ano passado, e agora estão cortando custos para que o caixa dure mais e elas não precisem ter essa conversa de reprecificação, mas ela vai ter de ocorrer cedo ou tarde”, diz Reider.

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